Como os investidores se protegem contra os riscos de inflação
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O aumento dos preços de bens e serviços pode gerar diversas reações, desde pedidos de aumento salarial até uma maior desigualdade de renda.
Para muitos investidores, o objetivo é maximizar os retornos e limitar os riscos, e a inflação – alta nos preços – pode afetar esse objetivo se não for devidamente contida. Por isso, é crucial definir a inflação, compreender seu impacto e reconhecer a importância de implementar estratégias eficazes de proteção contra a inflação.
Inflação e seu impacto explicados
‘O real de hoje compra menos do que comprava antes.’
Atualmente, um real certamente não compra o que comprava há 20 anos, ou até há 5 anos. Essa é uma verdade que você provavelmente já ouviu seus avós e pais comentarem.
A inflação é uma medida do nível geral de aumento dos preços de bens e serviços em uma economia ao longo de um determinado período, reduzindo o poder de compra. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) costuma ser utilizado para determinar a inflação por meio de métricas mensais e anuais. A desinflação, no entanto, reflete uma subida da inflação em um ritmo mais lento – por exemplo, se a inflação foi de 4,0% em junho de 2023 e, em junho de 2024, passou para 3,5%. Já a deflação se refere a uma queda sustentada nos preços de bens e serviços, significando que os preços estão caindo e o poder de compra está aumentando (o oposto da inflação). A inflação tem sido uma preocupação relevante nos últimos anos para muitas economias globais, subindo expressivamente em 2021 e atingindo seu pico na segunda metade de 2022.
Os bancos centrais trabalham com "metas de inflação" para garantir que a pressão sobre os preços se mantenha estável (na verdade, isso faz parte dos mandatos duplos de muitos bancos centrais do G10), com a maioria estabelecendo suas metas em 2,0%.
Assim como os dados do PIB (Produto Interno Bruto) resumem a quantidade total de bens e serviços produzidos dentro das fronteiras de um país em um único número, o IPC, a medida de inflação mais conhecida, resume os preços dos bens e serviços em um único valor. O IPC é baseado em uma cesta predeterminada de bens que os consumidores "geralmente" compram e atribui "pesos" a esses itens de acordo com os hábitos de consumo das pessoas. Essa abordagem ponderada é essencial, pois reconhece que as pessoas compram mais frango do que salmão e gastam mais com cuidados infantis do que com livros, por exemplo, ao invés de tratar todos os bens e serviços igualmente na média de preços.
Diversos fatores determinam a forma como a inflação ocorre. Salários mais altos e um forte crescimento do emprego podem impulsionar o aumento do consumo pessoal. Consequentemente, a demanda agregada aumenta e pode superar a oferta agregada, permitindo que as empresas aumentem os preços de seus bens e serviços. Algumas das causas subjacentes da inflação podem ser devido à inflação de demanda (demanda excessiva ultrapassando a oferta), inflação de custos (aumento nos custos dos insumos, levando os fabricantes a aumentarem os preços), inflação monetária (quando os bancos centrais adotam políticas monetárias e fiscais expansionistas), expectativas de inflação (se as empresas prevêem maior inflação no futuro, elas podem aumentar os preços baseadas nessas previsões) e outros.
É importante notar que a inflação afeta a todos de maneira diferente e depende da sua situação financeira. No entanto, como mencionado acima, o aumento dos preços de bens e serviços pode corroer significativamente o poder de compra dos consumidores. Para muitos, esse é o custo mais considerável da inflação. Isso significa que os consumidores não conseguem mais comprar a mesma quantidade de bens e serviços que compravam antes.
Como vimos no final de 2021, as pressões inflacionárias também podem levar os bancos centrais a aumentar as taxas de juros, o que aumenta o custo dos empréstimos e pode fazer com que compras de grande porte – como carros e casas – sejam adiadas para muitas famílias. Outra observação em ambientes de alta inflação, como descrito acima, é a demanda por salários mais altos, o que pode gerar uma espiral de salários e preços e intensificar os efeitos da inflação.
Como os investidores se protegem contra a inflação?
Os investidores devem sempre estar atentos à ameaça da inflação, especialmente agora, com a possibilidade de políticas inflacionárias por parte do recém-eleito Presidente dos EUA, Donald Trump.
A proteção contra a inflação reflete o investimento (ou "diversificação") em certas classes de ativos que tendem a valorizar-se em um ambiente inflacionário. Ao fazer isso, os investidores ajudam a gerenciar os efeitos da inflação e a manter seu poder de compra.
1. Ações
Embora muitos investidores mais novos tendam a concentrar suas atividades de proteção contra a inflação no mercado de commodities, os mercados de ações têm se mostrado uma das formas mais confiáveis e eficazes de proteção contra a inflação. Por exemplo, o S&P 500 – um índice de mercado que acompanha o desempenho de 503 grandes empresas listadas nas bolsas de valores dos EUA – tem, em média, apresentado retornos entre 8-15% anualmente desde o início da década de 1990. Embora a inflação nos EUA tenha atingido o pico de 9,1% em meados de 2022 e quase 15% na década de 1980, a inflação tem uma média de cerca de 3%, o que significa que os retornos do mercado de ações teriam proporcionado uma proteção confiável.
Embora a inflação possa levar os bancos centrais a aumentar as taxas de juros, o que pode prejudicar os retornos nas ações, alguns setores do mercado de ações frequentemente têm um bom desempenho. Por exemplo, os setores de energia e materiais frequentemente aumentam de valor juntamente com a inflação devido à sua conexão com ativos físicos, que podem subir quando a inflação aumenta.
Ações de crescimento tendem a ser deixadas de lado pelos investidores, enquanto as ações de valor podem ter um bom desempenho em ambientes inflacionários. Outra opção, claro, são as ações que pagam dividendos, que tendem a ter um bom desempenho e fornecem um fluxo constante de renda que pode ajudar a compensar os efeitos da inflação.
2. Comodities
Para muitos investidores, as commodities têm se mostrado uma proteção eficaz contra a inflação.
Embora alguns investidores se voltem para o ouro em tempos de inflação, o seu histórico como proteção contra a inflação é misto. De acordo com a Goldman Sachs: "O metal amarelo geralmente só protege contra inflação muito alta e grandes surpresas inflacionárias causadas por perdas na credibilidade dos bancos centrais e choques geopolíticos de oferta. O ouro geralmente não teve um bom desempenho em resposta a choques de demanda positivos quando o banco central respondeu rapidamente aumentando as taxas." Apesar disso, os preços do ouro ficaram em grande parte dentro de uma faixa entre o final de 2020 e o final de 2023, enquanto a inflação era alta nos EUA e em muitas economias do G10. O ouro só começou a ter uma forte valorização em março deste ano e recentemente atingiu máximos históricos.
Comodities que se destacam durante períodos inflacionários são os metais básicos industriais, devido aos seus insumos no processo de produção e à sua natureza cíclica, além da sua forte conexão com o mercado imobiliário. O cobre – ou "Dr. Copper", como muitos se referem a este metal básico na comunidade de investimentos, dada a sua longa história de servir como um indicador das direções futuras da economia – é um insumo significativo para muitos bens de consumo e tem ampla aplicação no setor industrial. Quando uma economia está crescendo e a produção é alta, a demanda por cobre aumenta e faz com que os preços subam, o que, por sua vez, torna o processo de produção mais caro. É importante notar que os preços do cobre são frequentemente vistos como um indicador líder do desempenho econômico, subindo antes dos preços ao consumidor. A energia é outra commodity que os investidores utilizam regularmente para se proteger contra a inflação, dada sua capacidade de responder tanto a choques de oferta quanto de demanda. Na verdade, segundo uma análise da Bloomberg, a energia e o cobre têm demonstrado ser as proteções mais eficazes contra a inflação.
Você pode investir em ações e commodities de várias formas. Os produtos derivativos são opções populares de baixo custo, além dos mercados de futuros e opções, bem como os Fundos Negociados em Bolsa (ETFs).
A Importância de um Portfólio Diversificado
Pensar em risco, retorno e a influência da inflação é fundamental para qualquer investidor.
Investir em apenas uma classe de ativos geralmente não é recomendado, pois expõe seu capital a riscos desnecessários. Espalhar seus investimentos por diferentes classes de ativos pode ajudar a criar um portfólio equilibrado, aumentar o retorno ajustado ao risco e proteger seu portfólio da inflação. No entanto, vale lembrar que a eficácia de um portfólio diversificado depende da sua composição específica e das condições econômicas do momento. É importante revisar e reequilibrar seu portfólio regularmente para garantir que ele esteja alinhado aos seus objetivos financeiros e à sua tolerância ao risco.
Um portfólio equilibrado que esteja de acordo com sua tolerância ao risco pode ajudar a proteger seus investimentos da volatilidade do mercado e aumentar o retorno total. Quando um investimento não vai bem, outras classes de ativos podem superar o mercado e compensar as perdas. Os investidores normalmente distribuem seus investimentos em cinco principais classes de ativos: Ações, Títulos, Commodities, Dinheiro e Equivalentes de Dinheiro, além de Imóveis (REITs).
Perguntas Frequentes:
1. O que é inflação?
A Inflação é o aumento geral nos preços de bens e serviços em uma economia ao longo do tempo.
2. O que causa a inflação?
Diversos fatores podem gerar aumentos nos preços, como a inflação por demanda, os aumentos de salários e a inflação monetária.
3. Como os investidores se protegem contra a inflação?
Investidores podem se proteger contra a inflação de várias formas, incluindo investimentos em ações e commodities, como discutido no artigo. Mas também podem recorrer a títulos. Títulos indexados à inflação são ajustados para acompanhar as mudanças na taxa de inflação (por exemplo, nos EUA, o CPI). Ao contrário dos títulos tradicionais, o valor principal na data de vencimento e os pagamentos de juros são ajustados pela inflação conforme as variações no CPI.